Apesar do nosso blogue até hoje não ser muito dado a assuntos culturais, e para que não nos acusem de sermos apenas uma espécie de Jogos Santa Casa ( versão Montareco ), misturada com a promoção da nudez feminina, hoje deixamo-vos com uma poesia. Sei que os montarecos não são grandes apreciadores da leitura, mas aconselho a lerem esta obra prima de Manuel Maria Barbosa du Bocage, intitulado A Água.
A ÁGUA
Meus senhores eu sou a água
que lava a cara, que lava os olhos
que lava a rata e os entrefolhos
que lava a nabiça e os agriões
que lava a piça e os colhões
que lava as damas e o que está vago
pois lava as mamas e por onde cago.
Meus senhores aqui está a água
que rega a salsa e o rabanete
que lava a língua a quem faz minete
que lava o chibo mesmo da rasca
tira o cheiro a bacalhau da lasca
que bebe o homem, que bebe o cão
que lava a cona e o berbigão.
Meus senhores aqui está a água
que lava os olhos e os grelinhos
que lava a cona e os paninhos
que lava o sangue das grandes lutas
que lava sérias e lava putas
apaga o lume e o borralho
e que lava as guelras ao caralho
Meus senhores aqui está a água
que rega as rosas e os manjericos
que lava o bidé, lava penicos
tira mau cheiro das algibeiras
dá de beber ás fresureiras
lava a tromba a qualquer fantoche
e lava a boca depois de um broche.
Bocage
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